Market share flutua, sempre irá flutuar ele reflete as respostas do mercado às tendências e hábitos dos usuários, porém é algo que nunca deve ser interpretado fora do contexto.
Agora que todo o mundo e o seu gato já escreveu sobre share de mercado de buscadores no Brasil eu vou dar um pitaco. Se já falaram a vossa opinião, podem parar, não é necessário ficar escrevendo sobre o mesmo assunto todos os anos.
As coisas não vão mudar nessa vertical. Porém, antes de seguir em frente, algumas considerações:
- Praticamente todos os dados de market share são incompletos;
- Praticamente todos os dados de market share têm uma desnível tendencioso, em algum aspecto e que muitas vezes está associado à forma como é medido, e/ou com o universo considerado;
- Devemos sempre evitar considerar quaisquer números exatos apresentados;
Agora, com isso em mente, adiante…
Market share e comportamento de consumo
Seres humanos não mudam comportamentos quando confrontados com um produto que faz exatamente o mesmo. Especialmente produtos voltados para desktop, e em que apenas a marca muda. Observando com atenção os gráficos abaixo, podemos ver que, mais ano menos ano, a tendência aponta que tudo volta aos patamares anteriores.
Ficamos obcecados com a ideia que, de hoje para amanhã, o share de mercado de um dos gigante de buscas vai mudar. Ou que, de repente vamos ter que adaptar a novos comportamentos. Porém, esquecemos que o que temos realmente que seguir, são os comportamentos e os vários momentos de busca das pessoas. Olhar para share de busca, é como olhar no retrovisor em vez de olhar o caminho à frente. E mais importantemente, para a diferença de serviços e dos produtos em si.
O Google vem perdendo share de mercado
Certo, mas errado. Certo porque o Google por vezes perde share de mercado, mas errado porque isso normalmente acontece em momentos isolados. O share de mercado perdido em algum momento, normalmente é re-adquirido. Especialmente quando as pessoas voltam aos hábitos e reivindicam comodidades de pesquisa. Por vezes, as breves perdas de share de mercado nem chegam a durar um ano antes de serem re-conquistadas. É fácil olhar para um gráfico como o que incluí acima e dizer coisas como: O Google perdeu market share a meio de 2012 e depois novamente no final de 2013. Porém, precisamos olhar o que realmente aconteceu antes de proferir ou escrever certas constatações. Ainda mais se estas nos colocam numa posição menos favorável e, na realidade, nos fazem parecer pouco informados. Olhemos um pouco então mais em pormenor ao que realmente aconteceu a meio de 2012… ENLARGE!
Ah! Foi em Maio de 2012 quando descobriram que o Google violava a privacidade dos usuários, o Google perdeu para o… Babylon???
Na verdade, o share perdido pelo Google em 2012 foi devido a um plugin que fez uso de outros softwares para se disseminar. O plugin era instalado nos navegadores dos usuários de uma forma camuflada, e mudava o motor de busca padrão para o Babylon. Essa brincadeirinha, fez com que o Google perdesse momentaneamente cerca de ~3% de share de mercado no território Brasileiro. Saindo de ~99% para ~96% (dados StatCounter).
Os esforços de captura de market share do Bing
Em 2013 conseguimos ver o Bing conseguindo algum share de mercado. O que aconteceu nessa altura? Bem, essencialmente Marketing e pouco mais. Por volta de Setembro de 2013, o Bing se “relança” usando um novo logo. Mas também colocando no ar uma campanha chamada Bing-it-on! E, pela primeira vez na história a Apple resolve trocar o Google pelo Bing no lançamento do iOS7. Talvez, esse último acontecimento, tenha tido mais impacto no share de mercado que todas as campanhas de marketing. Como mencionei acima, as pessoas não mudam hábitos para algo que é aparentemente igual.
Sim, até eu sou da opinião que o share de mercado entre mecanismos de busca deveria ser mais equilibrado. Uma competição saudável, é o que faz uma empresa manter o foco nos usuários e melhorar um produto ou um serviço. Eu próprio já me obriguei a usar o Bing durante algum tempo, porém não consegui me habituar. Especialmente, devido à qualidade dos resultados das pesquisas. O Bing, simplesmente, não performa bem em pesquisas long-tail ou menos populares fora da língua Inglesa. Mas isso é assunto para outro momento.
O sensacionalismo digital emburrece aborrece
Os “sites digitais” e “tecnológicos“ gostam de publicar headlines sensacionalistas. É que isso traz pageviews e impre$$ões de anúncios. E eles podem cobrar os anunciantes mais dinheirinho. Nem sempre analisar a realidade dos dados é algo conveniente para o ser humano que reage ao sensacionalismo… Na verdade, por vezes fico em dúvida se é realmente a inclinação para ser sensacionalista, ou a incapacidade de analisar os dados de uma forma imparcial e racional…
Analisando a notícia referenciada acima e relatada pelo Olhar Digital, a headline é “Google lidera buscas no Brasil, mas Bing é mais relevante, diz estudo”. Porém ao ler o artigo, o leitor não tem nem ideia da mecânica usada para classificar o que é “mais relevante”. Ah! Mas isso não interessa nada, diz estudo!
O Bing é mais relevante porque tem uma maior percentagem de pesquisas que resulta em visita? Isso é relevância? E se a pessoa que fez a pesquisa no Google encontrou a resposta sem clicar no resultado? Isso é irrelevância? Notem que a notícia é de Outubro de 2013! Nessa altura o Google já tinha um Grafo do Conhecimento respondendo a muitas das pesquisas de uma forma mais imediata. Então, se a metodologia usada para aferir a relevância do Bing foi a falta de cliques em resultados no Google, talvez o estudo precise ser revisado. Para não falar que, nem é fornecido acesso aos dados do estudo, ou pesquisas consideradas.
Mas e olhando para o HitWise?
Olhando as pesquisa feita pela HitWise, não ficamos mais informados. Podemos olhar para as várias pesquisas que sempre são divulgadas: Jul 2013, Dez 2013, Jan 2014. Nunca conseguimos entender o que realmente foi considerado para calcular os dados da pesquisa. Mobile? Desktop? Outros dispositivos?
A última pesquisa de Janeiro de 2015 reporta o Google com um market share combinado (.com e .com.br) de ~96.36%. Mais uma vez, não existe nem menção do que foi medido e como foi medido.
Não estou duvidando da veracidade dos números, estou duvidando da metodologia usada.
Dados de market share HitWise de Janeiro de 2015
Google.com.br | 94,31% |
Google.com | 2,05% |
Bing | 1,71% |
Yahoo.com.br | 1,18% |
Yahoo.com | 0,17% |
Comparando com os dados reportados pelo GlobalStats temos uma discrepância pequena no share do Google. Porém, maior no share do Yahoo. Uma das coisas que notei nos dados do StatCounter é que, existe uma tendência de dados de internautas mais tecnologicamente informados. Essencialmente devido aos navegadores usados (no StatCounter existe acesso ao CSV de dados coletados).
Dados de market share StatCounter Janeiro de 2015 (combinados)
Google (combinado) | 94,6% |
Bing | 2,24% |
Yahoo (combinado) | 2,64% |
Olhando os dados por hostname, conseguimos distinguir uma inversão no share do Yahoo em relação aos dados apresentados pelo HitWise quando comparamos as propriedades .com e .com.br.
Dados de market share StatCounter Janeiro de 2015 (por hostname)
Google.com.br | 89.13% |
Google.com | 4.12% |
Bing | 2.23% |
Yahoo.com.br | 0.28% |
Yahoo.com | 1.77% |
Market share flutua! E sempre irá flutuar… Ele reflete as respostas do mercado às tendências e hábitos dos usuários. Porém, é algo que nunca deve ser interpretado fora do contexto. Aliás, nenhuma métrica deve ser interpretada fora de contexto! Já falei isso num post sobre Bounce-Rate.
Nenhuma ferramenta ou estudo, lhe irá fornecer os “números certos”. Especialmente em momentos que coincidem com esforços de Marketing, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas. Publicar juízos de valor sem divulgação de dados e metodologias leva a publicações sensacionalistas. E na maioria das vezes, desprovidas de contexto e realidade. O valor de uma informação sem contexto, é igual à fofoca da novela das 20h.